quarta-feira, 2 de setembro de 2020

sloth spit

Eu meio que aprendo devagar. Meu interesse está sempre girando, eu tenho pouco foco e tenho dificuldades em fazer uma mesma coisa por muito tempo. Me falta disciplina. Eu quero ler tal livro, ver tal série, aprender tal língua, desenvolver tal habilidade e tudo fica pela metade, o que me faz um medíocre em diversas áreas -- digo, literalmente medíocre: o cara que faz "na média".

Por outro lado, eu sou medíocre em muitas coisas, muitos assuntos, muitas matérias. Eu sei um pouco de cada coisa de muita coisa, porque eu sou essa máquina (preguiçosa) de absorver conteúdo -- e eu sei que talvez muitos do nosso tempo o sejam, especialmente quando se trata de mero entretenimento, e talvez justamente por isso eu me sinta ainda como alguém "no topo": porque além do mero entretenimento eu tendo a me esforçar pra absorver assuntos mais pesados, forçar meus limites o pouco que seja, ainda que só pelo pequeno prazo de tempo em que meu interesse permanece focado.

E depois, tem essa de que a cada nova matéria com que eu faço contato me bate sempre esse sentimento de que "ei, eu poderia fazer essa tal coisa", como ensinar uma língua que eu estou aprendendo, ou iniciar um grupo de leituras com os livros de tal autor, ou começar a ensinar o instrumento que eu estou tocando. Porque absorver conteúdo é legal, mas produzir meio que te põe em movimento, meio que te incentiva a aprender mais pra poder ensinar coisas novas -- e meio que é por isso que eu comecei a blogar.

Só que os blogs -- e o blogspot em especial -- é coisa do passado. Mesmo na época de ouro do blogger eu não tinha saco pra aprender os pormenores (e nunca tive), e essa coisa de gerar público orgânico e conteúdo consistente e com uma certa frequência sempre me foi um pé no saco. E nas novas mídias é a mesma coisa: youtube, instagram, facebook ou mesmo tik tok: fazer a vida em cima de uma mídia social significa postar certo conteúdo com certa regularidade e certo público alvo. Mas, como eu disse antes, meu interesse tá sempre girando, o que significa manter constância por no máximo um mês ou dois.

E daí que eu meio que desisti. Ok, eu sempre tive blogs desde a adolescência e escrever sempre foi relativamente fácil pra mim, e por isso mesmo eu passei a escrever bastante no facebook -- e entrar em discussões inúteis e me estressar com política e etc (mas isso é história pra outro post) --, e o que me agrada no facebook e aqui no blogger é que eu posso simplesmente vomitar meu texto sem muita composição e só mais ou menos revisar pra ver se expressei o que eu queria e voilà! nasceu mais um post.

Mas ok que eu já caprichei mais nas ideias aqui e ali -- especialmente aqui no blogger. Até porque em vários posts que se acha aqui eu estava tentando construir algo, manter uma certa consistência de conteúdo, que depois eu acabei abandonando justamente pela minha inconstância que eu venho comentando. E também que no outro blog, o da adolescência (que eu mantenho 'oculto'), eu estava sempre tentando ser verdadeiro e "filosófico" num sentido bem honesto: eu estava tentando abordar as minhas questões da forma como elas me vinham e da forma como eu conseguia as encarar, e torcendo que alguém se identificasse com elas de alguma forma.

E ainda tem a questão de que escrever não me expõe, ou pelo menos me expõe de uma forma que eu ao longo do tempo fui me acostumando e passei a gostar, ou talvez tenha me tornado mais resistente às chateações que poderiam aparecer. Porque se eu escrevia algo e entrava numa discussão -- o que nunca foi raro --, a discussão se dava em torno do assunto do texto, e nesse distanciamento eu sou capaz de lidar, e até de trocar de opinião eventualmente, o que sempre me fez me sentir mais ou menos "produtivo" nessa prática pelo menos. 

Agora, uma vez eu tentei gravar um vídeo no youtube e foi um desastre. Porque falar diante da câmera envolve muitas coisas. Tá certo que eu era adolescente e as câmeras naquela época não eram tão boas, mas mesmo hoje eu tenho dificuldades com fazer poses pra tirar fotos, e prefiro simplesmente aparecer nas fotos dos outros porque não gosto de me sentir "não natural". E é exatamente "não natural" que a gente se sente falando com a câmera pela primeira vez!

Além disso, tem toda uma desenvoltura pra falar, um roteiro que seria bom seguir e eu não consigo simplesmente ligar a câmera e sair falando com ela como eu faço aqui no blogger, em que basta eu me sentir confortável e em pouco mais de meia hora ou uma hora meu texto está pronto. E ainda tem a questão de que a crítica talvez não venha sobre o assunto de que eu trato mas sobre mim como pessoa, ou sobre minha desenvoltura -- e, pode não parecer pra quem não me conhece, porque eu sou um cara super ácido e debochado e falo de assuntos polêmicos e sou bem confiante ao dar minhas opiniões, mas quando se trata de mim mesmo eu tendo a ser bem inseguro e tímido, e geralmente o meu bom humor e deboche são inclusive formas de camuflar essas inseguranças (talvez alguém lembre do Chandler num episódio em que aparece um psicólogo).

Então... ok, eventualmente me ocorrei fazer um podcast, porque é só voz e meio que soa como um programa de rádio, e se eu tiver alguém com quem conversar eu tendo a ser uma pessoa bem legal e com muito assunto, especialmente se eu esquecer que estamos gravando. Dá até pra começar a gravar, gravar por umas boas horas e depois só cortar os trechos mais interessantes (e aleatórios) da conversa. Mas... de novo, a menos que tenha um assunto específico, um público alvo e consistência nas postagens, não é algo que vá criar um público, e também que (assim como aqui no blogger) tem assuntos sobre os quais simplesmente não dá pra falar na internet -- especialmente se o pessoal aqui no Brasil resolver importar essa tal "cultura de cancelamento" que rola nos Estados Unidos, o que é lamentavelmente uma censura afinal. 

"Mas wtf dude?! pra que tu precisa postar alguma coisa afinal?!". Pois é, justamente isso, como eu disse logo acima eu desisti. E fiquei um bom período simplesmente absorvendo. Deletei o facebook (no qual eu perdia uma quantia absurda de tempo) e mesmo nesse blog eu fiquei muito tempo só postando links e materiais só pra mim, que eu achava interessante e não ligava muito se alguém via. E mesmo quando eu me propus ultimamente a alguma coisa, eu me permiti que rolasse no meu tempo -- e eu ainda quero levar meus comentários do curso de teologia do Padre Paulo até o final, mas conforme eu estiver afim.

Só que ao longo do tempo vem essas questões de "propósito da vida" e "deixar um legado" ou "construir algo" que me pegam, e ultimamente eu tenho me perguntado o sentido de eu ler a absorver tais e quais assuntos, e porque esses são mais importantes que aqueles, e me ocorreu que eu afinal preciso sim de um projeto. Quando eu era adolescente eu nutria em mim a idealização de que eu ia ser como um desses gênios que com trinta anos já estão fazendo descobertas científicas, viajando pelo mundo ou revolucionando a ciência ou a filosofia, e ... não, eu sou só mais um cara como outro, com qualidades e defeitos e pode ser que eu faça alguma coisa de valor ou pode ser que não, como muita gente por aí, e talvez já esteja na hora de eu escolher algo e aprender a fazer bem.

Já faz algum tempo que eu venho fazendo exercícios físicos e pulando corda e eu tenho percebido que pelo menos nisso eu tenho mantido alguma disciplina. Eu comecei só pulando corda, e depois eu inventei de fazer alguns alongamentos. Daí eu resolvi mudar minha alimentação pra ajudar no processo, e comecei a fazer abdominais, depois apoios e ... quando eu estava praticando pra conseguir fazer handstands. Quer dizer, esse é o processo: escolher uma coisa e aos poucos deixar que ela vá 'florescendo' e te mudando aos poucos para uma forma nova tal que de repente tu olha pra trás e vê "nossa! olha o caminho que eu percorri!".

E eu entendo que fazer exercícios me mantém saudável, e estando saudável eu vou ter uma vida melhor e daí me vem a questão de "tá, mas pra que uma vida melhor? qual o objetivo? tu ainda vai morrer um dia, então... que diferença faz viver mais dez anos ou vinte ou cinquenta?". E pensando nessas coisas eu tenho me dado conta de que, ok, tem gente que gosta de fazer exercícios e a finalidade da pessoa é simplesmente desenvolver e cultivar o corpo, mas eu não to nessa vibe, eu preciso fazer algo, alguma ideia, algum projeto.

Mas meio que se eu não começar por alguma coisa, eu não vou começar nunca. Eu fico absorvendo, processando e pensando "ok, agora eu preciso pôr algo pra fora" e nunca dá tempo, porque eu ocupo todo o tempo absorvendo, e não dedico tempo nenhum à produção, e vou seguindo no auto-pilot, e de repente olho pra trás e não fiz nada, nem que seja só botar todo esse raciocínio num post do blog.

E ... bom. Agora eu botei. Me sinto como que tendo me exorcizado. Não dá pra ficar esperando fazer. Tem que fazer algo. Ok que eu só escrevi e isso aqui é uma puta zona de conforto. Mas é algo, especialmente porque eu não tenho projeto ou ideia claros agora. Eu tenho mais ou menos uma linha de raciocínio que não é nada fácil e é extremamente ambiciosa e provavelmente vai mudar assim que eu começar. Mas assim como eu adquiri disciplina pra me dedicar nos exercícios físicos, eu preciso aprender a adquirir disciplina pra produzir alguma coisa, seja texto, áudio ou vídeo ou etc.

Enfim...
eras isso. Paztejamos

domingo, 31 de maio de 2020

Teologia Fundamental III - Padre Pedro



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Começa recapitulando onde estávamos e passa a explicar a filosofia de Guilherme de Occam.
>> Desconfiança acerca do conhecimento humano. O Homem só conhece o concreto e não conhece os universais.
>> assim ele tá matando a forma analógica de conhecer o mundo e as coisas, e portanto a possibilidade de criar discursos sobre Deus (porque os discursos sobre Deus são sempre analógicos).
>> Afirma a Independência e Liberdade divinas: Deus demonstra a onipotência falando o absurdo. A revelação vai contra a razão. A fé é conflitante com a racionalidade humana.

2:00 - Duplo processo de ruptura, a fé se afasta da razão, e a razão se afasta da fé.

2:15 - Reforma protestante: a fé se afasta da razão.
>> para o Europeu se apresenta um mundo de diversas tradições e religiões. E a religião não mais une, mas divide.
>> Lutero se dizia discípulo de Occam.
>> Teologia do ato de fé é intelectualista: a fé diz respeito à inteligência, não às obras (sola fide).
>> Se inclina pra um certo fideísmo (CONTRADIÇÃO INTERNA DO CURSO*).

5:30 - Lutero diz que é preciso descontaminar a fé das categorias gregas. Precisa ocorrer a deselenização da fé. Lutero não desenvolve essa possibilidade, mas a tendência fica presente.
>> Protestantismo liberal: a fé é reduzida a uma mensagem moral difusa.
>> historinha dos liberais despindo a fé.

8:15 - Razão se separando da fé. Processo de auto-limitação da razão (conforme Ratzinger).
>> antes a física era "filosofia da natureza".
>> Galileo: "não é preciso começar pelas passagens da escritura, e sim pela experiência sensível".
>> Revolução científica. Dois elementos: 1) a experiência e 2) a matemática.
>> Descartes: se envolveu em questões de liberdade humana e onipotência divina. Encheu o saco dessas paradas e foi estudar matemática. Acabou conectando geometria e aritmética (plano cartesiano).
>> Padre Pedro viaja na do Descartes (Essa implicância típica dos católicos com os princípios da modernidade**).
>> Newton: une matemática e física, os dois elementos mencionados antes.

14:43 - a Revolução Científica vai ter um impacto na maneira de pensar o conhecimento humano.
>> vai levar as pessoas a dizer "a gente chegou na maneira perfeita de conhecer".
>> isso vai crescer em oposição à filosofia, à metafísica e à religião.
>> a deusa vai destronar Deus.

16:20 - Século XX: ruptura nesse processo. Crise da razão.
>> crise da razão histórica: ver que na prática o progresso prometido pela ciência não se deu.
>> devastação nunca antes vista.
>> crise da razão científica: Einstein corrige Newton.
>> essas crises geram uma aversão à certeza.

19:20 - Pós-modernidade. Crise das meta-narrações.
>> As pessoas muito apaixonadas pela sua ração acabam criando coisas terríveis.
>> "O pensamento débil". A gente precisa de um pensamento que não "afirma", que pega leve. Sem esse espírito apaixonado e mais 'panos quentes'.
>> Esse "anti-intelectualismo" acaba entrando na igreja.
>> CVII: não ter uma postura beligerante, valorizar os aspectos positivos do interlocutor, e os aspectos subjetivos da fé. Mas sem exageros.
>> Sem exageros, por exemplo o ecumenismo: "a doutrina divide, o serviço une". Ortopráxis. Isso seria um exagero.

23:15 - Edith Stein: "Não aceitar nada como verdade que seja privado de amor -- e vice versa."
>> A fé é algo racional.
>> A fé ante uma razão débil cai no perigo de ser reduzida a um mito ou superstição.


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Minhas observações:

- Eu acho curiosa a descrição da filosofia de Guilherme de Occam, não porque eu a conheça (não conheço), mas porque soa relativamente contraditória com a lei famosa que leva o seu nome: a navalha de Occam. Eu tomo a descrição do Padre Pedro por sincera, mas creio que sinceramente errada. Porque não pode o mesmo sujeito que diz "das descrições possíveis, a menos mirabolante" (que é mais ou menos o que diz a navalha de Occam) dizer que "as coisas da fé são para serem cridas em absoluto, independente da razão", a menos que ele seja um sujeito sem fé e esteja dizendo "vamos tirar Deus da equação porque na prática Ele não interfere nas descrições cotidianas". Se é esse o caso, então eu entendo porque ele afirma as outras duas coisas que o Padre Pedro disse que afirma, e então o considero um sujeito muito à frente do seu tempo.

- As descrições dos católicos sobre Lutero normalmente são elaboradas do ponto de vista de quem olha de dentro da Igreja, e por isso me soam sempre parciais. Como eu afirmei no asterisco, fica difícil crer que Lutero seja fideísta e ao mesmo tempo dê uma ênfase na fé intelectualizada. Mas eu entendo a posição de 'deselenizar' a fé não no sentido de rejeitar a influência grega no cristianismo, mas sim na escolástica. Se eu entendo bem, Lutero queria voltar aos tempos dos "pais da igreja", ou seja, dar nova ênfase à Patrística. Isso pra mim significa não um processo de ruptura com a razão, mas sim com a razão Aristotélica, em favor de uma razão mais Platônica. E se não fosse os cinco solas eu veria essa mudança como positiva.

- Portanto, a história do liberalismo despindo a fé não se aplica, na minha opinião. E aliás, nesse contexto e da forma como foi contada, me dá uma impressão muito ruim da fé católica, porque flerta com o que o católico acusa de paganismo. Não que o paganismo em si seja ruim, mas como a fé católica afirma se orientar na razão e na verdade, deveria tentar se manter pura de invencionices vãs. E... bom, esse é um ponto dos protestantes.

- Eu não sei daonde saiu essa discussão sobre a "crise da razão", mas eu chutaria que ela surgiu e aconteceu principalmente dentro dos círculos católicos tradicionais, em oposição ao que chamam de modernidade. Então não me admira o Ratzinger falar a respeito. Provavelmente o Guenón e o Schuon também falam. Porém, da minha parte, eu tendo a ser advogado dos nossos tempos. Porque ainda que o século XX seja o mais sangrento da história, ele também é um período novo em que as pessoas passaram a comer melhor, viver mais, saíram da pobreza em termos nunca antes registrados, a tecnologia nos deu possibilidades incríveis, escravidão e pedofilia são mundialmente considerados crimes, ainda que existam aqui e ali...

E quanto à crise da razão científica, eu até entendo que talvez existam mais exemplos que produzam esse sentimento, mas o de Einstein desmentindo Newton é um exemplo muito ruim. Porque Einstein não desmentiu Newton, ele desenvolveu uma teoria mais elaborada que engloba a teoria de Newton. E provavelmente o dia vai chegar em que alguém vai desenvolver uma teoria maior ainda que englobe a de Einstein... então, isso é progresso, não crise.

- Da forma como a padre Pedro colocou, eu tendo a ser partidário desse 'pensamento débil'. Eu não quero brigar por uma ideia, eu quero poder convencer os outros que a minha ideia é melhor ou ser convencido de que a ideia do outro é melhor que a minha. Pra mim, quem tenta mudar o mundo normalmente acaba criando um mundo mais estragado do que tinha antes.

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*Como assim? Lutero apresenta uma intelectualização da fé ou se inclina ao fideísmo? Eu acho que os evangélicos mais desorientados se inclinaram sim a um fideísmo, mas isso não é nem regra nem particularidade. Eu não tenho dúvidas de que existem católicos mais desorientados que também creem em coisas loucas tipo a história de que "Deus criou os fósseis pra testar a fé das pessoas".

**Tá claro pra mim que essas histórias sobre o Descartes são tipo aqueles mitos que romantizam ou demonizam os personagens da história conforme se quer tomar partido por ou contra alguém (e todo mundo sabe um mito sobre Marx, Lutero, Sócrates, Paulo ou Moisés). Quem quer que leia Descartes não vê nele nenhum plano de vida eterna ou solução do universo, e se bem me lembro no Discurso do Método ele não se propõe a ensinar ninguém, mas só narrar o processo que o conduziu a determinados raciocínios -- e se a descrição é mentirosa ou não, nem vem ao caso.

Notas Sobre Meditação

*Respirar fundo e relaxar. Inicialmente é isso que funciona. Em pouco tempo a mente acalma, a atenção aguça e eu posso sentir meu coração bater. Uma sentimento grave se me abate, e eu tendo a pensar com menos palavras. Se alguém chegar e romper meu silêncio, é provável que eu use menos palavras e mais certeiras, que eu o saúde com firmeza ao chegar e ao sair, de forma mais marcada.

*Mas relaxar não significa amolecer. A impressão inicial que eu tinha era que meus músculos deviam estar totalmente sem tensões, soltos, como se eu estivesse derretendo. Não! Uma postura correta demanda músculos tensos nos lugares certos, e só aos poucos eu estou me dando conta de todos eles.

*Sobre os músculos: eu pouco ouvi falar sobre os chacras mas, tendo os memorizados todos, posso afirmar que se eu fosse um indiano há 5 ou 6 mil anos atrás preocupado em meditar, essas ideias me seriam bem relevantes. Porque os pontos dos chacras são os primeiros pontos que eu levo em consideração quando penso em relaxar, e inclusive descobri uma nova parte no abdômen que eu não sentia, tal como eu não sabia sentir as costas ou o quadríceps antes de experimentar treiná-los. E agora eu tendo a crer que algum treinamento físico pode ser útil à concentração -- especialmente o abdominal no meu caso. O único chacra mais enigmático é o de cima da cabeça, que aparentemente tem um caráter mais espiritual, e eu não sei se o compreendo perfeitamente, ou pelo menos não dentro desse meu "empirismo utilitarista".

*Não pensar não significa exatamente o que essa expressão inicialmente diz. Tem a ver com adquirir um reflexo natural, ser "como a água" (pra lembrar o vídeo do Bruce Lee), estar em sintonia com o mundo. Quando eu respiro fundo e relaxo, minha mente passa da respiração aos batimentos do coração, depois aos desconfortos sentidos nas pernas ou na coluna, depois na pressão nos dentes ou o franzir da sobrancelha, e eu vou observando e corrigindo essas tensões até que minha mente já está num evento passado, ou numa preocupação cotidiana, ou num causo político... e tão logo eu me dou conta, trago de volta a atenção à respiração, e o processo segue novamente. Mas quando eu abro os olhos, vejo cores e reparo em coisas menores que nunca tinha observado, ainda que esteja num lugar perfeitamente familiar.

*o que eu como influencia drasticamente o processo. Na verdade as necessidades fisiológicas todas influenciam. É mais difícil entrar nesse estado de relaxamento e concentração de barriga cheia, e pior se tiver comido coisas pesadas. E pra mim o maior inimigo é o sono. Porque apesar de muita gente crer que meditar é entrar numa espécie de transe com a mente meia-fase -- num estado intermediário entre o sono e a vigília --, eu sou da opinião de que é exatamente o oposto: meditar é aguçar a observação.

*O estado em que eu me encontro quando relaxo e respiro é tal que aos poucos cada detalhe vai se mostrando, tanto em mim quanto no meu entorno, e eu vou os absorvendo, me tornando indiferente a eles, aceitando cada um deles. Se eu sinto fome, o ronco do meu estômago é percebido. Se eu sinto frio ou calor, ou raiva, vergonha ou ansiedade de algo que eu lembro, tudo isso vai passando por mim com um sentimento de "eu sei que isso tá aí", sem me agitar, ou tentando corrigir a agitação. É um estado em que eu sou o observador e ao mesmo tempo o fluxo das informações, mas com o propósito de se afastar desse fluxo. E depois, de olhos abertos, eu tento observar as coisas que acontecem com o mesmo distanciamento que eu consegui usar em mim, e eu creio que talvez assim as coisas que acontecem afetem menos o meu humor.

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Eu escrevi essas anotações mais pra registrar o meu processo do que pra dar qualquer tipo de caminho ou conselho, e nem eu mesmo sei se to vendo a coisa da maneira certa. Mas talvez alguém tire algum proveito disso...

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Hermetismo, Lemúria, Espiritismo e Verdade

Esse meu costume de me interessar por lixo na internet ...

Nesse período de quarentena, acabei lendo alguma parte de um "livro" (disponível em pdf) de um ocultista exibido chamado Del Debbio, que eu conheço há anos, dos tempos que eu lia o Sedentário e Hiperativo. O livro dele é justamente um compilado da coluna dele nesse blog -- que na época eu não lia porque era crente e o que ele dizia me soava tremendamente estranho/esquisito.

Bom, ainda me soa estranho/esquisito, mas como eu virei um entusiasta de coisas estranhas/esquisitas (teorias de conspiração, ufologias, ocultismos, deuses astronautas, esoterismos diversos), resolvi dar uma chance.

O que ele diz é meio que "magia moderna", tem uma inspiração meio "perenialista" (Guenón e Schuon estão entre as leituras recomendadas inclusive) e se pretende uma espécie de "ciência extraída das diversas tradições mágicas". Por exemplo, ele fala das pirâmides como receptáculos (ou produtores -- nunca se distingue claramente) de uma grande energia, fala dos chakras como os pontos de conexão dessas energias nos diversos planos, da astrologia como uma espécie de 'arranjo celeste' pra otimização do desenvolvimento dessas energias, dos diversos planos (físico, mental, astral...) como planos onde essas energias operam. And so on.

Aparentemente todas as religiões sabem disso de alguma forma -- só o cristianismo ficou de fora, mas o judaísmo tá dentro pela linha esotérica da Cabala. As religiões são todas tratadas como tradições mágicas, cheias de 'simbolismos e mensagens ocultas' (a arca de Noé, por exemplo, não levou duas girafas, uma macho e uma fêmea, mas isso é um símbolo pras tradições africanas que foram salvas do dilúvio, que realmente aconteceu).

O tom é sempre afirmativo, categórico, do tipo "olha, crianças, o tio vai ensinar pra vocês o que vocês não sabem", mas nunca fica claro pra mim de onde afinal ele tá tirando essas informações. O cara aparenta manjar mesmo das diversas tradições mágicas -- algo que ele aparentemente aprendeu envolvido nas diversas ordens que frequenta (maçonaria, cabala, candomblé, rosacruz, ou qualquer outra coisa assim) --, mas isso tem claramente um efeito negativo na forma pouco científica com que ele lida com esses temas.

Quero dizer, ok, não dá pra ser muito científico lidando com magia, ou pelo menos ainda não conquistamos métodos o suficiente pra isso. A coisa é intrincada, misturada com religião e uma perspectiva metafísica mais ou menos específica. E ainda que dê, no máximo dá pra falar de intenções, formas mentais, projeções de pensamento e etc. Ninguém espera um efeito físico no mundo real a partir de mágica, ou os mágicos estariam ricos ou trabalhariam em circos (alguns trabalham :P). Mas... dá pra ser pelo menos mais "humilde" na abordagem. Eu que sou um cara "aberto a espiritualidades" (tremendamente aberto pra ser realista) não consigo comprar metade do que ele diz, porque ele apela pra fraudes escancaradas.

Por exemplo, de quando em vez, como uma forma de argumento de autoridade, o cara cita atlânticos e lemurianos. Atlânticos, vá lá, se o cara se imerge em "historiografia alternativa" (como eu mesmo sou imerso), até passa; mas Lemurianos? Força a amizade. Porque Lemúria é uma invenção moderna. É uma viagem que não tem 200 anos. Ninguém nunca viu, não é citado em obras antigas, e era só uma hipótese científica (já descartada) pra uma certa observação fóssil.

E é aí que vira um pé no saco entrar no meio dos ocultistas. Porque os caras escancaradamente inventam coisas a partir de pequenas elaborações razoáveis e depois colocam camadas e mais camadas de maluquice e "tradições" em cima dessas coisas, até elas parecerem místicas e esotéricas o suficiente pra serem vendidas como 'tradições antigas e ocultas'. Sério, fala sério!

E o pior: procurando sobre Lemúria eu descobri que o Chico Xavier também tem uma transcrição sobre, o que me leva a uma série de raciocínios. Tipo, suponha que, ok, veio um espírito mesmo e baixou no Chico Xavier, e ele escreveu sobre a Lemúria (o que eu tendo a descrer, porque eu tendo a não comprar esse 'mundo sutil habitado por seres alternativos' -- sejam anjos, demônios, espíritos, fantasmas, espectros, kamis ou mortos). Se esse espírito conta toda uma fraude flagrante como essa, era sinal de que é um "espírito zombeteiro", um mentiroso, e o que ele disse não vale nada.

Tipo, ainda que exista um mundo sobrenatural habitado por seres sutis, não dá pra aceitar tudo que os tais seres dizem né. Pelo menos algum processo de crítica interna tem que existir, do tipo "ok, o que esse cara tá falando fecha com o que o outro disse" ou "o que ele disse tá de acordo com o que ele disse antes" ou ainda "o que ele disse tá de acordo com o que a gente observou na realidade". Tipo, sério, tem espírita que acha que Jesus andou na Índia durante a sua juventude. É muita forçação de barra.

Tá, mas voltando pro Del Debbio: eu acho satisfatório o esforço de tentar fazer um conjunto 'coerente' a partir de um monte de crenças desconexas. É o que eu mesmo tento fazer -- e eu acho que Jesus deixou um estímulo pra isso inclusive --, mas o que me incomoda é que falta 'suspensão de descrença', humildade no contato com essas coisas, senso de realidade. Ok que é difícil falar de senso de realidade quando se trata de ocultismos -- e o melhor que qualquer pessoa com bom senso faz é sair desse amontoado de crenças e tentar construir seus conhecimentos em cima de algo mais concreto. Mas pra quem (como eu) tem satisfação de revirar esse amontoado de lama (porque acha que nela tem algumas pérolas), era importante tentar manter uma 'epistemologia' até um certo ponto sólida.

Eu sei que no fundo esse esforço pra fazer um conjunto coerente não acaba bem, e mais ou menos desfigura as crenças todas e acaba formando uma crença nova, um frankenstein metafísico, mas eu acho que esse esforço é até válido -- inclusive com os inputs não religiosos dos filósofos modernos (sobre os quais eu sei muito pouca coisa pra falar a verdade). Porque está todo mundo falando de uma coisa que não sabe bem explicar, tentando "acessar" planos complicados com os instrumentos simbólicos (ou discursivos) que tem a disposição. Por outro lado, esse esforço tem que ser compatível com o que se sabe por ciência -- e não ciência inventada transformada em tradição. Ainda que muito da ciência precise ser melhor discutida ou posta em cheque, ela precisa ser posta em cheque a luz de evidências razoáveis, e não de meras hipóteses ou, pior ainda, de insistências em ideias que já foram descartadas.

Porque o que eu vejo esse Del Debbio fazer com a Lemúria é semelhante ao que eu vejo os criacionistas radicais fazerem com o Gênesis. Depois das descobertas arqueológicas assírias, babilônicas e etc, é impossível falar do Gênesis como se fosse um evento literal -- o que coloca os crentes no conjunto dos negacionistas históricos. Por outro lado, a historiografia mainstream ainda tem muito a melhorar, e a história das torres gêmeas é um exemplo disso: os caras ainda contam que as torres caíram por causa da colisão de dois aviões, o que simplesmente impossível.

Provavelmente esses eventos recentes (como as armas químicas na Síria, o ataque às torres gêmeas e outras operações militares americanas) só vão receber alguma correção daqui a 50, 100 ou 200 anos, quando os documentos estiverem disponíveis a todos e a discussão histórica não envolver interesses econômicos ou paixões nacionais. Mas faz parte. O interesse de todo mundo deveria ser a Verdade, e não o de provar um conjunto de pressupostos religiosos ou mágicos.

Enfim...
algumas reflexões aleatórias.

Paztejamos

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Teologia Fundamental II -- Padre Pedro



0:25 - A defesa da fé no século I.
>> acusações bizarras.
>> cristãos eram pouco conhecidos.

2:20 - No século II as acusações já são de tipo social.
>> Padres apologistas se defendem (São Justino, Tertuliano).
>> Se dirigem às autoridades não cristãs (ao imperador)
>> Usam argumentos racionais (até porque o imperador era pagão).
>> Tertuliano: Se qualquer coisa acontece, o pessoal já vem com "Lançai os cristãos aos leões".
>> cristianismo é acusado de ateísmo (por não prestar culto aos deuses de Roma)

5:10 - No século III surgem ataques não só de pagãos, mas também de apóstatas.
>> Celso e Porfírio são os mais famosos.
>> Celso: "o cristianismo é uma doutrina irracional que se difundiu entre pessoas ignorantes aproveitando-se da sua credulidade."
>> Orígenes escreve um tratado "Contra Celso".
>> Orígenes diz que é razoável fazer escolhas meio incertas, tentando acertar, e depois ir vendo, analisando, verificando se tá certo mesmo ou não.

7:59 - Século IV o Imperador Constantino se converte e ocorre a ascensão social do cristianismo e a queda do "paganismo".

8:20 - Episódio do Altar da deusa Vitória (Nice ou Nike).
>> Símaco, prefeito de Roma, escreveu em favor da estátua da deusa Vitória.
>> [Procurei o trecho inteiro do Símaco, mas infelizmente não achei. Soa bonito. Achei esses trechos, que mais ou menos "antecedem o trecho mencionado, em espanhol:

Por consiguiente reclamamos la situación de los cultos que durante mucho tiempo fue beneficiosa para el Estado. No hay duda de que podrían enumerarse príncipes de una y otra doctrina, de una yotra creencia. De ellos, los más antiguos practicaron los ritos de nuestros padres, los más recientes nolos suprimieron. Si el culto de los antiguos no sirve de modelo, que sirva el disimulo de los más próximos. ¿Quién es tan allegado a los bárbaros que no reclame el ara de la Victoria? Somos precavidos con respecto al futuro y evitamos los portentos producidos por cambios de situación.¡Que por lo menos se devuelva a su nombre el honor que se ha denegado a su numen! Vuestra Eternidad debe mucho a la Victoria y aún le deberá más. [...] no abandonéis vosotros un patrocinio favorable a los triunfos. Ese poder es apetecido por todos.
[...]
Lo cierto es que cada uno tiene sus propias costumbres, sus propios ritos: la inteligencia divina ha asignado a las ciudades cultos diversos para su protección; como las almas entre los que nacen, los Genios del destino se distribuyen entre los pueblos. […]10. [...] Contemplamos los mismos astros, el cielo es común a todos, nos rodea el mismo mundo.¿Qué importancia tiene con qué doctrina indague cada uno la verdad? No se puede llegar por un solo camino a un secreto tan grande. Pero éste es un debate propio de desocupados; ahora exponemos ruegos, no controversias. [texto que tirei daqui]

(a parte em itálico é a que foi mencionada no vídeo).]
>> Santo Ambrósio diz que "o que vocês procuram por meio de suposições, nós experimentamos à sabedoria e à verdade do próprio Deus". Ele sugere que o cristianismo não é só mais um produto cultural, mas é "revelado" por Deus.
>> O Santo Ambrósio soa sectário, mas depois defende a liberdade de defender qualquer ideia. Fiz um esforço pra achar as cartas dele mas não encontrei de jeito nenhum =/

14:09 - Disputa entre Agostinho e outro Romano chamado Marco Terêncio Varrão.
>> Três discursos sobre Deus: Mítico, cívico e naturalis.
>> Mítico é o discurso dos poétas.
>> Civinis, civil, é a religião de um povo (a que Símaco está defendendo aparentemente).
>> Naturalis é o deus dos filósofos; Bem, motor imóvel, aquilo de que Platão e Aristóteles falam.
>> As duas primeiras se uniram, mas a terceira ficou isolada.
>> Agostinho vai afirmar que o deus dos cristãos é o Naturalis, é o Deus da Verdade, o Deus verdadeiro. E que esse Deus veio a nós e se fez ouvir.

18:00 - menção a uma conferência do cardeal Ratzinger chamada "Cristianismo: a vitória da inteligência sobre o mundo das religiões". E a ideia é que o Deus da Verdade se pôs sobre os deuses das religiões.

19:00 - Idade Média: Unidade da Verdadeira Religião.
>> Ápice: escolástica.
>> séc 13 -- Guilherme de Occam. Ruptura com a unidade do cristianismo.

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Algumas observações:

- Eu não gosto da apresentação de Símaco, que me soa conservador, mas também não gosto da apresentação de Santo Ambrósio, que me soa sectária. Eu teria que ler mais da argumentação pra chegar a uma opinião, mas hoje eu vejo a posição de Ambrósio um pouco prejudicada. O que me é curioso é que Ambrósio argumenta pelo não-ídolo, não pelo ídolo oponente. Me pergunto o que Ambrósio diz sobre imagens (se é que ele diz algo a respeito)...

- Os protestantes tem muitíssimas dificuldades de aceitar essa história, tal qual narrada aí. A impressão que eu tenho é que os protestantes têm os pais da igreja do lado deles, como os fundadores de uma fé que depois que o catolicismo vira mainstream no século IV acaba mudando muito. Então aí tem dois períodos narrados num só. Um da antiguidade cristã, em que os cristãos são marginalizados e tem uma estrutura bem menos uniforme (e rola todo tipo de influência espiritual grega/romana no meio); e outro em que o catolicismo é hegemônico, e as outras religiões é que precisam se defender dele.

E aí mora pra mim uma forte dificuldade com a religião cristã, que é que ela se afirma 'perene', mas muda o tempo todo. A sua própria "formulação" é uma mutação, um sincretismo, do judaísmo e dos helenismos já existentes.

- O título da palestra do Ratzinger me agrada. A imagem me agrada. Uma religião científica, uma religião em que o próprio Deus é a Verdade, em que o primeiro mandamento é justamente aprender, conhecer, estudar ... porque isso é amar o Deus Verdade acima de todas as coisas.

Só que não é nisso que o cristianismo vira. Ele tem o potencial de ser isso, e eu acho que passados dois mil anos nós chegamos (por caminhos muito tortuosos) numa versão mais ou menos deformada disso. E eu ainda acho que dá pra caminhar nessa direção, mas tanto o catolicismo quanto o protestantismo se engessaram em seus próprios modos. O catolicismo na infalibilidade papal, o protestantismo no sola scriptura...

- Além disso, eu não vejo como o catolicismo não seja igual -- IGUALITO -- a qualquer paganismo. Os católicos tomam uma afirmação dessas como ofensa, afronta, até blasfêmia, mas eu acho injusto. Os paganismos não são feios. Aliás, o que afinal é "paganismo"? eu acho que os politeísmos são tão diversos que botar eles todos num balaio assim é uma como a parábola dos cegos e do elefante mencionada no vídeo passado: tu acaba descrevendo uma coisa muito grande apalpando só uma parte. Aliás, é exatamente disso que parece que o Símaco está falando: as experiências dos diversos paganismos, e do cristianismo inclusive, são tantas e tão diferentes, que tu não pode descartar uma em favor de outra, sob pena de fazer como os cegos. O melhor seria apalpar o elefante inteiro e daí de repente chegar a alguma conclusão: e essa sim seria a conclusão verdadeira, aquela que satisfaz o Deus Verdade (que eu ainda tenho a vontade de que possa ser o Deus cristão).


Paztejamos

Teologia Fundamental I -- Padre Pedro



1:40 - Parábola dos cegos e do Elefante (trazida pelo então cardeal Ratzinger). A ideia de que a fé não entra no plano da razão, porque é um plano muito amplo e sutil pra que se façam elaborações lógicas.

3:30 - Parábola das formigas, que Deus tem dois ferrões. A ideia contrária, de que a razão não consegue acessar os mistérios da fé, de que a nossa visão de Deus sempre vai ser limitada.

4:55 - Comentário sobre o desprezo à doutrina cristã no nosso tempo.

7:00 - Começa a narrativa histórica com enfoque de fé e razão, começando em Jesus.
>> Jesus é um Rabi.
>> Ele dialoga.
>> Pitágoras não permitia perguntas antes dos 5 anos. Jesus permite desde o começo.
>> Ele argumenta com os escribas e fariseus.
>> Cita a Bíblia e dá argumentos lógicos.
>> Desmascara atitudes incoerentes dos oponentes.
>> Tem um discurso RACIONAL.

9:00 - "Ao mesmo tempo, não se trata de uma racionalidade fria, como se fosse um professor de matemática".
>> Credes nas obras.
>> Veio para dar "testemunho" (martíria) da Verdade, não só nas palavras, mas também nas ações.
>> Não dialogava com quem não estava aberto ao diálogo.

11:18 - Terceiro elemento que faz com que os outros creiam: a Graça.

11:38 - Três características da fé: é Racional (não o mesmo que dedutível), é Livre e é um Dom.
>> Os apóstolos têm um discurso Racional.

13:55 - "Que vossa conversa seja sempre agradável, com uma pitada de sal, de modo que saibais responder a cada um como convém."

14:56 - "Estais sempre prontos a responder para vossa defesa (apologia) a todo aquele que vos pedir a razão da vossa esperança, mas fazeis com suavidade e respeito, tendo a consciência reta, afim de que mesmo aqueles que dizem mal de vós sejam confundidos os que desacreditam no vosso santo procedimento em Cristo."

16:20 - A razão e a vida, mas também a Graça -- conforme Paulo aos Coríntios. "Não fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria anunciar os testemunhos de Deus."

17:45 - O evangelho se espalha, e vai se expressar em grego, que era na época e contexto a língua franca. Daí sai palavras como "ágape", ou "logos".

19:30 - As batalhas pelas palavras foi significativa. O arianismo foi derrubada com "homousios" (co-substancial). Ario separa o Pai como Deus e Jesus como uma criatura. Venceu Jesus como sendo Deus no concílio de Niceia.

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Alguns comentários.

1) Sobre a parábola do elefante, o que eu percebo é que, bom, a fé pode muito bem ser um produto de cegos apalpando um elefante, mas o elefante existe e está presente, e quem tem olhos pra ver, o enxerga. A atitude razoável então deveria ser a de "apalpar a maior parte possível afim de criar uma imagem maximamente coerente", e eu digo que essa deveria ser a atitude do cristão que tem a Verdade como sendo o seu Deus.

2) Dá pra partir do princípio de que Jesus é coerente com o que fala, e eu acho isso plausível. Ele é um professor que ensina algo e vive o que ensina. Ótimo. A pergunta é: o que ele ensina? isso tem sido motivo de batalha desde, bom, desde o tempo dos apóstolos -- e inclusive Pedro e Paulo têm uma rixa por isso. Paulo e Tiago também dizem coisas mais ou menos incompatíveis e, bom, da perspectiva de um cristão dos tempos de Jesus, talvez seja um pouco estranho ter Paulo como o cara que mais influencia o cristianismo dos primeiros séculos. Um cara que perseguia os cristãos, e depois se converteu... ótimo, mas como as cartas dele viraram tão influentes e não outros escritos? Não sei, é uma dúvida minha, e eu chuto que tem algo provavelmente a ver com os primeiros concílios, onde os caras começam a estabelecer o que é "bíblico" e "canônico" e o que não é -- algo que até onde eu sei seguiu controverso por 15 séculos, com o cânon do velho testamento inclusive tomando dimensões de relevância diferentes das que os judeus definiam entre si. Eu sei pouco a respeito disso, mas me soa tremendamente arbitrária as definições de cânon.

3) Um outro complicador é essa questão de os evangelhos serem escritos em grego. Até onde eu sei, a crítica não sabe se os escritos do novo testamento foram mesmo escritos pelos autores designados, e eu até tendo a tomar que sim (pra simplificar a questão -- mas por suspensão de descrença), mas quando os caras escreveram esses textos (especialmente os evangelhos), Jesus já tinha morrido há anos, e é de se esperar que já vigorava uma série de 'teologias' primitivas que sem dúvidas influenciaram a escolha das palavras -- mas sem os seguintes questionamentos que depois depurariam as doutrinas.

É mais fácil pra mim crer que determinadas teologias preconcebidas influenciaram a escolha de certos livros na formação de um cânon, e uma vez que esse cânon estivesse mais ou menos estabelecido, ele fosse então usado como instrumento pra combater os questionamentos subsequentes. Digo, "mais ou menos estabelecido" porque as polêmicas sobre determinados livros (e determinados trechos) seguiram adiante indefinidamente, até a reforma protestante -- pelo menos até onde eu sei.

Paztejamos

Notas sobre o Curso de Teologia Fundamental do Padre Pedro

O padre Pedro, que é um padre com quem eu simpatizo -- e é um dos responsáveis pelo Opus dei aqui em Porto Alegre, com que eu também simpatizo --, está gravando uma série de vídeos com o nome de "Curso de Teologia Fundamental" nessa quarentena de coronavírus. Na verdade eu não sei se é mesmo "teologia fundamental"... eles deram esse nome, mas parece que ele não se atém à teologia na série. Está mais pra "uma série de elaborações mais ou menos dispersas a respeito de ciência, filosofia e teologia". Ou talvez seja isso que o católico conheça por teologia fundamental, eu sinceramente não sei (e pensando melhor, até talvez seja mesmo).

Mas... eu pretendo acompanhar, especialmente pra 1) saber mais sobre como pensa o padre [e por tabela o pessoal do Opus Dei]; e 2) aproveitar pra "pôr em palavras" e "depurar" algumas das minhas ideias, objeções, raciocínios, etc., em relação ao catolicismo e ao cristianismo. Não que eu seja um grande "inimigo" do cristianismo, muito pelo contrário... eu tenho até uma atitude bem favorável em relação a ele. Só que tem coisa que ainda me desce muito quadrado.

Enfim. Eu acho que vou postar vídeo a vídeo e escrever as minhas notas sobre cada trecho. Fazer isso vai me tomar algum tempo, e eu tenho outros projetos mais importantes em mente, mas eu espero conseguir levar isso até o fim.

Paztejamos

sexta-feira, 27 de março de 2020

Estúdio Ghibli 2 - mais impressões

Depois que postei o primeiro texto, mais duas coisas me obrigaram a vir aqui fazer post adicional.

A primeira é a escancarada fixação do Hayao Miyazaki por coisas voadoras, sejam helicópteros, aviões, ou coisas mais mirabolantes como veículos-moscas ou jets em que o piloto vai pendurado (como o que a Nausicaä usa - o Mehve).

Nausicaâ voando no seu Mehve

Em alguns filmes, os veículos voadores são meio centrais, como no Porco Rosso, no Castelo no Céu ou no Nausicaä. Em outros, eles estão mais camuflados: por exemplo, no Serviço de Entregas da Kiki, ela voa em uma vassoura, o menino de quem ela gosta a convida para uma festa em um clube de aviação e depois acaba pendurado em um dirigível. Os elementos voadores estão presentes mas o 'universo' do filme não depende deles.

Eu acho que não constatei esse detalhe antes porque os primeiros filmes que assisti são justamente aqueles em que não há nada de voador. No filme da Chihiro o Haku até é um dragão alado, mas convenhamos que isso passa meio lateralmente ao filme. E nos filmes do Totoro e da Mononoke não há nada que nem de longe se refira a algo voador.

A outra coisa que eu vim aqui mencionar é a qualidade das trilhas sonoras. Eu sei que esses filmes estrearam no cinema e alguns deles fizeram grandes bilheterias, e por isso é mais do que justificável que tenham incríveis trilhas sonoras. Aparentemente o cara por trás da maioria das composições que eu tenho escutado é um tal de Joe Hisaishi -- de quem eu já virei fã :) Das músicas que eu mais gostei a minha preferida é a primeira do Castelo no Céu (apesar de que eu gostei muito das músicas do Totoro, da Chihiro e especialmente da Nausicaä). O nome da música é (em inglês) "The Girl Who Fell From the Sky".



Bom. Eras isso. Paztejamos.

domingo, 22 de março de 2020

Estúdio Ghibli - Algumas impressões

Há alguns dias eu soube que o Netflix havia disponibilizado uma boa quantidade de filmes do estúdio Ghibli -- sobre o qual eu muito ouvi falar bem, mas nunca soube quais filmes havia produzido, com a exceção óbvia do "A Viagem de Chihiro" --, e então resolvi conferir o que tem de bom aí.

Eu assisti A Viagem de Chihiro, Meu amigo Totoro, Princesa Mononoke e Nausicaä, então, bom, são quatro filmes dos quais dá pra tirar um "padrão", mas admito que não são uma amostra muito grande. Nos próximos dias (especialmente em função desse isolamento do Coronavírus) eu pretendo continuar, mas até aqui eu já tive uma série de impressões boas, e quero escrever sobre algumas.

A primeira e mais óbvia, e que eu creio que grita à atenção de qualquer pessoa ocidental, é a quantidade de folclore japonês associado. Tal como a gente é acostumado a ver fadas, dragões, ogros, elfos, duendes e bruxas nas produções ocidentais -- e nem nos chama a atenção porque são o folclore imediato da nossa cultura --, nas produções do estúdio Ghibli têm kamis, raposas, espíritos maus e bons, fanfarrões e obstinados... e não é só num ou noutro filme: todos eles envolvem uma dimensão mais ou menos "fantasiosa".

Outra coisa claríssima é que as histórias sempre têm uma espécie de "equilíbrio com tensões", e as personagens principais -- geralmente meninas -- são as únicas que conseguem ver todos os lados, inclusive os dos "vilões", que em geral são pessoas boas em algum aspecto, apesar das maldades que fazem. A exceção aqui é Princesa Mononoke, onde apesar de a princesa dar nome ao filme, o personagem principal mesmo ser o Ashitaka, e ser ele quem tenta evitar o ódio e as mortes da guerra.

As personagens principais sempre têm uma vida "dolorosa" de alguma forma, e apesar de serem sensíveis e sentirem o sofrimento do outro, sempre carregam sozinha algum dilema ou dor ou decisão difícil, e é o que dá a ideia de que são personagens "fortes". Os vilões parecem ter um senso de bondade estreito e serem bons "do seu modo", preocupados apenas com os seus, ou preocupados em eliminar os outros pra proteger os seus -- e é isso que os faz vilões. Mas nenhum deles parece ser intrinsecamente mal. Ainda, no Meu amigo Totoro não há um vilão aparente, apenas a doença que mantém a mãe de Satsuki no hospital.

Os filmes têm mortes, e dilemas morais, e personagens com densidade, e sofrimento diante de situações duras, e portanto alguém pode dizer que não são filmes pra criança -- mas sim, eles são. Esses são os heróis que as crianças deveriam começar a ver pra se defrontar com situações verdadeiras da vida -- ainda que de uma forma fantástica e imaginativa --, em vez daqueles programas idiotizantes que passaram a produzir de uns 20 anos pra cá, que só serve pra permitir que os pais descansem enquanto o guri fica ali hipnotizado com porcaria. Mas ok, são filmes, então não tem muito pra ver -- apesar de eu conhecer criança que vê o mesmo filme dos backyardigans quinze vezes por dia...

Enfim. Essas são minhas impressões. Tirando o filme do Totoro -- cujo universo não tem nada de mais --, cada um dos filmes tem um lore, um contexto, que poderia ser muito explorado, e o ambiente inventado ali dá espaço pra vários filmes, séries, produções ...que ... lamentavelmente não existem.

Paztejamos.



domingo, 26 de janeiro de 2020

Série de coisas

Pra variar, algumas "não-leituras".

* Depois das aulas do Donald Kalan, fiquei de assistir um curso sobre o "Antigo Testamento", mas nunca consegui. Parece super interessante, e é também da Universidade de Yale.
https://oyc.yale.edu/religious-studies/rlst-145

* Eu acho que já postei essa série de vídeos do Jordan Peterson aqui, mas estou na dúvida e com preguiça de olhar.
https://www.youtube.com/watch?v=f-wWBGo6a2w&list=PL22J3VaeABQD_IZs7y60I3lUrrFTzkpat&t=0s&index=2

* Uma live do Joseph Farrell que conecta o assassinato do Kennedy, os eventos de Roswell e os depoimentos do Joseph Maccarthy (o senador aquele, de onde saiu a expressão "Macarthismo"). Eu acho esse Joseph Farrell um cara sensacional. Talvez ele seja um lunático e nada do que ele diga faça tanto sentido, ou talvez ele seja um gênio injustiçado. Não sei, mas eu acho fantástico saber as coisas que ele diz :P
https://www.youtube.com/watch?v=9u8XX6_SwF8&fbclid=IwAR3y9OIR9x1s6ArVUxMAo5pHuRLrzGxyxBy2_4NQdqOuAjiT2LZCdBCpxJg

* Um texto chamado "'I was shocked it was so easy': ​meet the professor who says facial recognition ​​can tell if you're gay", que aparentemente se trata de uma tecnologia de reconhecimento facial que é capaz de detectar se alguém é gay (mas que eu não sei na real porque nunca parei pra ler).
https://www.theguardian.com/technology/2018/jul/07/artificial-intelligence-can-tell-your-sexuality-politics-surveillance-paul-lewis?fbclid=IwAR34HBuBvO0yahS8zooeYyoNCbBAOJR8LHNhLlezFXntyfhrGiv1DdEXX2U

* Um site interessante sobre pornografia, que argumenta sobre os riscos do uso de pornografia e dos malefícios causados, e explica as consequências cerebrais, hormonais e etc. Também ensina a "rebootar" o cérebro pra se livrar desse vício.
https://www.yourbrainonporn.com/

* Faz muito tempo que eu quero tirar três horas (ou quatro, de repente, pra pausar aqui e ali eventualmente) pra assistir essa interpretação da ópera Tannhauser de Wagner. Eu assisti a primeira uma hora algumas vezes (e inclusive gravei bem a overture mentalmente), mas não consegui seguir em frente.
https://www.youtube.com/watch?v=kl7oUK3sMQo&spfreload=1
Tem aqui a transcrição em inglês (já que alguns trechos da letra não são legendados).
http://www.impresario.ch/libretto/libwagtan_e.htm

É isso.

Paztejamos :)