domingo, 31 de maio de 2020

Teologia Fundamental III - Padre Pedro



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Começa recapitulando onde estávamos e passa a explicar a filosofia de Guilherme de Occam.
>> Desconfiança acerca do conhecimento humano. O Homem só conhece o concreto e não conhece os universais.
>> assim ele tá matando a forma analógica de conhecer o mundo e as coisas, e portanto a possibilidade de criar discursos sobre Deus (porque os discursos sobre Deus são sempre analógicos).
>> Afirma a Independência e Liberdade divinas: Deus demonstra a onipotência falando o absurdo. A revelação vai contra a razão. A fé é conflitante com a racionalidade humana.

2:00 - Duplo processo de ruptura, a fé se afasta da razão, e a razão se afasta da fé.

2:15 - Reforma protestante: a fé se afasta da razão.
>> para o Europeu se apresenta um mundo de diversas tradições e religiões. E a religião não mais une, mas divide.
>> Lutero se dizia discípulo de Occam.
>> Teologia do ato de fé é intelectualista: a fé diz respeito à inteligência, não às obras (sola fide).
>> Se inclina pra um certo fideísmo (CONTRADIÇÃO INTERNA DO CURSO*).

5:30 - Lutero diz que é preciso descontaminar a fé das categorias gregas. Precisa ocorrer a deselenização da fé. Lutero não desenvolve essa possibilidade, mas a tendência fica presente.
>> Protestantismo liberal: a fé é reduzida a uma mensagem moral difusa.
>> historinha dos liberais despindo a fé.

8:15 - Razão se separando da fé. Processo de auto-limitação da razão (conforme Ratzinger).
>> antes a física era "filosofia da natureza".
>> Galileo: "não é preciso começar pelas passagens da escritura, e sim pela experiência sensível".
>> Revolução científica. Dois elementos: 1) a experiência e 2) a matemática.
>> Descartes: se envolveu em questões de liberdade humana e onipotência divina. Encheu o saco dessas paradas e foi estudar matemática. Acabou conectando geometria e aritmética (plano cartesiano).
>> Padre Pedro viaja na do Descartes (Essa implicância típica dos católicos com os princípios da modernidade**).
>> Newton: une matemática e física, os dois elementos mencionados antes.

14:43 - a Revolução Científica vai ter um impacto na maneira de pensar o conhecimento humano.
>> vai levar as pessoas a dizer "a gente chegou na maneira perfeita de conhecer".
>> isso vai crescer em oposição à filosofia, à metafísica e à religião.
>> a deusa vai destronar Deus.

16:20 - Século XX: ruptura nesse processo. Crise da razão.
>> crise da razão histórica: ver que na prática o progresso prometido pela ciência não se deu.
>> devastação nunca antes vista.
>> crise da razão científica: Einstein corrige Newton.
>> essas crises geram uma aversão à certeza.

19:20 - Pós-modernidade. Crise das meta-narrações.
>> As pessoas muito apaixonadas pela sua ração acabam criando coisas terríveis.
>> "O pensamento débil". A gente precisa de um pensamento que não "afirma", que pega leve. Sem esse espírito apaixonado e mais 'panos quentes'.
>> Esse "anti-intelectualismo" acaba entrando na igreja.
>> CVII: não ter uma postura beligerante, valorizar os aspectos positivos do interlocutor, e os aspectos subjetivos da fé. Mas sem exageros.
>> Sem exageros, por exemplo o ecumenismo: "a doutrina divide, o serviço une". Ortopráxis. Isso seria um exagero.

23:15 - Edith Stein: "Não aceitar nada como verdade que seja privado de amor -- e vice versa."
>> A fé é algo racional.
>> A fé ante uma razão débil cai no perigo de ser reduzida a um mito ou superstição.


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Minhas observações:

- Eu acho curiosa a descrição da filosofia de Guilherme de Occam, não porque eu a conheça (não conheço), mas porque soa relativamente contraditória com a lei famosa que leva o seu nome: a navalha de Occam. Eu tomo a descrição do Padre Pedro por sincera, mas creio que sinceramente errada. Porque não pode o mesmo sujeito que diz "das descrições possíveis, a menos mirabolante" (que é mais ou menos o que diz a navalha de Occam) dizer que "as coisas da fé são para serem cridas em absoluto, independente da razão", a menos que ele seja um sujeito sem fé e esteja dizendo "vamos tirar Deus da equação porque na prática Ele não interfere nas descrições cotidianas". Se é esse o caso, então eu entendo porque ele afirma as outras duas coisas que o Padre Pedro disse que afirma, e então o considero um sujeito muito à frente do seu tempo.

- As descrições dos católicos sobre Lutero normalmente são elaboradas do ponto de vista de quem olha de dentro da Igreja, e por isso me soam sempre parciais. Como eu afirmei no asterisco, fica difícil crer que Lutero seja fideísta e ao mesmo tempo dê uma ênfase na fé intelectualizada. Mas eu entendo a posição de 'deselenizar' a fé não no sentido de rejeitar a influência grega no cristianismo, mas sim na escolástica. Se eu entendo bem, Lutero queria voltar aos tempos dos "pais da igreja", ou seja, dar nova ênfase à Patrística. Isso pra mim significa não um processo de ruptura com a razão, mas sim com a razão Aristotélica, em favor de uma razão mais Platônica. E se não fosse os cinco solas eu veria essa mudança como positiva.

- Portanto, a história do liberalismo despindo a fé não se aplica, na minha opinião. E aliás, nesse contexto e da forma como foi contada, me dá uma impressão muito ruim da fé católica, porque flerta com o que o católico acusa de paganismo. Não que o paganismo em si seja ruim, mas como a fé católica afirma se orientar na razão e na verdade, deveria tentar se manter pura de invencionices vãs. E... bom, esse é um ponto dos protestantes.

- Eu não sei daonde saiu essa discussão sobre a "crise da razão", mas eu chutaria que ela surgiu e aconteceu principalmente dentro dos círculos católicos tradicionais, em oposição ao que chamam de modernidade. Então não me admira o Ratzinger falar a respeito. Provavelmente o Guenón e o Schuon também falam. Porém, da minha parte, eu tendo a ser advogado dos nossos tempos. Porque ainda que o século XX seja o mais sangrento da história, ele também é um período novo em que as pessoas passaram a comer melhor, viver mais, saíram da pobreza em termos nunca antes registrados, a tecnologia nos deu possibilidades incríveis, escravidão e pedofilia são mundialmente considerados crimes, ainda que existam aqui e ali...

E quanto à crise da razão científica, eu até entendo que talvez existam mais exemplos que produzam esse sentimento, mas o de Einstein desmentindo Newton é um exemplo muito ruim. Porque Einstein não desmentiu Newton, ele desenvolveu uma teoria mais elaborada que engloba a teoria de Newton. E provavelmente o dia vai chegar em que alguém vai desenvolver uma teoria maior ainda que englobe a de Einstein... então, isso é progresso, não crise.

- Da forma como a padre Pedro colocou, eu tendo a ser partidário desse 'pensamento débil'. Eu não quero brigar por uma ideia, eu quero poder convencer os outros que a minha ideia é melhor ou ser convencido de que a ideia do outro é melhor que a minha. Pra mim, quem tenta mudar o mundo normalmente acaba criando um mundo mais estragado do que tinha antes.

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*Como assim? Lutero apresenta uma intelectualização da fé ou se inclina ao fideísmo? Eu acho que os evangélicos mais desorientados se inclinaram sim a um fideísmo, mas isso não é nem regra nem particularidade. Eu não tenho dúvidas de que existem católicos mais desorientados que também creem em coisas loucas tipo a história de que "Deus criou os fósseis pra testar a fé das pessoas".

**Tá claro pra mim que essas histórias sobre o Descartes são tipo aqueles mitos que romantizam ou demonizam os personagens da história conforme se quer tomar partido por ou contra alguém (e todo mundo sabe um mito sobre Marx, Lutero, Sócrates, Paulo ou Moisés). Quem quer que leia Descartes não vê nele nenhum plano de vida eterna ou solução do universo, e se bem me lembro no Discurso do Método ele não se propõe a ensinar ninguém, mas só narrar o processo que o conduziu a determinados raciocínios -- e se a descrição é mentirosa ou não, nem vem ao caso.

Notas Sobre Meditação

*Respirar fundo e relaxar. Inicialmente é isso que funciona. Em pouco tempo a mente acalma, a atenção aguça e eu posso sentir meu coração bater. Uma sentimento grave se me abate, e eu tendo a pensar com menos palavras. Se alguém chegar e romper meu silêncio, é provável que eu use menos palavras e mais certeiras, que eu o saúde com firmeza ao chegar e ao sair, de forma mais marcada.

*Mas relaxar não significa amolecer. A impressão inicial que eu tinha era que meus músculos deviam estar totalmente sem tensões, soltos, como se eu estivesse derretendo. Não! Uma postura correta demanda músculos tensos nos lugares certos, e só aos poucos eu estou me dando conta de todos eles.

*Sobre os músculos: eu pouco ouvi falar sobre os chacras mas, tendo os memorizados todos, posso afirmar que se eu fosse um indiano há 5 ou 6 mil anos atrás preocupado em meditar, essas ideias me seriam bem relevantes. Porque os pontos dos chacras são os primeiros pontos que eu levo em consideração quando penso em relaxar, e inclusive descobri uma nova parte no abdômen que eu não sentia, tal como eu não sabia sentir as costas ou o quadríceps antes de experimentar treiná-los. E agora eu tendo a crer que algum treinamento físico pode ser útil à concentração -- especialmente o abdominal no meu caso. O único chacra mais enigmático é o de cima da cabeça, que aparentemente tem um caráter mais espiritual, e eu não sei se o compreendo perfeitamente, ou pelo menos não dentro desse meu "empirismo utilitarista".

*Não pensar não significa exatamente o que essa expressão inicialmente diz. Tem a ver com adquirir um reflexo natural, ser "como a água" (pra lembrar o vídeo do Bruce Lee), estar em sintonia com o mundo. Quando eu respiro fundo e relaxo, minha mente passa da respiração aos batimentos do coração, depois aos desconfortos sentidos nas pernas ou na coluna, depois na pressão nos dentes ou o franzir da sobrancelha, e eu vou observando e corrigindo essas tensões até que minha mente já está num evento passado, ou numa preocupação cotidiana, ou num causo político... e tão logo eu me dou conta, trago de volta a atenção à respiração, e o processo segue novamente. Mas quando eu abro os olhos, vejo cores e reparo em coisas menores que nunca tinha observado, ainda que esteja num lugar perfeitamente familiar.

*o que eu como influencia drasticamente o processo. Na verdade as necessidades fisiológicas todas influenciam. É mais difícil entrar nesse estado de relaxamento e concentração de barriga cheia, e pior se tiver comido coisas pesadas. E pra mim o maior inimigo é o sono. Porque apesar de muita gente crer que meditar é entrar numa espécie de transe com a mente meia-fase -- num estado intermediário entre o sono e a vigília --, eu sou da opinião de que é exatamente o oposto: meditar é aguçar a observação.

*O estado em que eu me encontro quando relaxo e respiro é tal que aos poucos cada detalhe vai se mostrando, tanto em mim quanto no meu entorno, e eu vou os absorvendo, me tornando indiferente a eles, aceitando cada um deles. Se eu sinto fome, o ronco do meu estômago é percebido. Se eu sinto frio ou calor, ou raiva, vergonha ou ansiedade de algo que eu lembro, tudo isso vai passando por mim com um sentimento de "eu sei que isso tá aí", sem me agitar, ou tentando corrigir a agitação. É um estado em que eu sou o observador e ao mesmo tempo o fluxo das informações, mas com o propósito de se afastar desse fluxo. E depois, de olhos abertos, eu tento observar as coisas que acontecem com o mesmo distanciamento que eu consegui usar em mim, e eu creio que talvez assim as coisas que acontecem afetem menos o meu humor.

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Eu escrevi essas anotações mais pra registrar o meu processo do que pra dar qualquer tipo de caminho ou conselho, e nem eu mesmo sei se to vendo a coisa da maneira certa. Mas talvez alguém tire algum proveito disso...