sexta-feira, 27 de março de 2020

Estúdio Ghibli 2 - mais impressões

Depois que postei o primeiro texto, mais duas coisas me obrigaram a vir aqui fazer post adicional.

A primeira é a escancarada fixação do Hayao Miyazaki por coisas voadoras, sejam helicópteros, aviões, ou coisas mais mirabolantes como veículos-moscas ou jets em que o piloto vai pendurado (como o que a Nausicaä usa - o Mehve).

Nausicaâ voando no seu Mehve

Em alguns filmes, os veículos voadores são meio centrais, como no Porco Rosso, no Castelo no Céu ou no Nausicaä. Em outros, eles estão mais camuflados: por exemplo, no Serviço de Entregas da Kiki, ela voa em uma vassoura, o menino de quem ela gosta a convida para uma festa em um clube de aviação e depois acaba pendurado em um dirigível. Os elementos voadores estão presentes mas o 'universo' do filme não depende deles.

Eu acho que não constatei esse detalhe antes porque os primeiros filmes que assisti são justamente aqueles em que não há nada de voador. No filme da Chihiro o Haku até é um dragão alado, mas convenhamos que isso passa meio lateralmente ao filme. E nos filmes do Totoro e da Mononoke não há nada que nem de longe se refira a algo voador.

A outra coisa que eu vim aqui mencionar é a qualidade das trilhas sonoras. Eu sei que esses filmes estrearam no cinema e alguns deles fizeram grandes bilheterias, e por isso é mais do que justificável que tenham incríveis trilhas sonoras. Aparentemente o cara por trás da maioria das composições que eu tenho escutado é um tal de Joe Hisaishi -- de quem eu já virei fã :) Das músicas que eu mais gostei a minha preferida é a primeira do Castelo no Céu (apesar de que eu gostei muito das músicas do Totoro, da Chihiro e especialmente da Nausicaä). O nome da música é (em inglês) "The Girl Who Fell From the Sky".



Bom. Eras isso. Paztejamos.

domingo, 22 de março de 2020

Estúdio Ghibli - Algumas impressões

Há alguns dias eu soube que o Netflix havia disponibilizado uma boa quantidade de filmes do estúdio Ghibli -- sobre o qual eu muito ouvi falar bem, mas nunca soube quais filmes havia produzido, com a exceção óbvia do "A Viagem de Chihiro" --, e então resolvi conferir o que tem de bom aí.

Eu assisti A Viagem de Chihiro, Meu amigo Totoro, Princesa Mononoke e Nausicaä, então, bom, são quatro filmes dos quais dá pra tirar um "padrão", mas admito que não são uma amostra muito grande. Nos próximos dias (especialmente em função desse isolamento do Coronavírus) eu pretendo continuar, mas até aqui eu já tive uma série de impressões boas, e quero escrever sobre algumas.

A primeira e mais óbvia, e que eu creio que grita à atenção de qualquer pessoa ocidental, é a quantidade de folclore japonês associado. Tal como a gente é acostumado a ver fadas, dragões, ogros, elfos, duendes e bruxas nas produções ocidentais -- e nem nos chama a atenção porque são o folclore imediato da nossa cultura --, nas produções do estúdio Ghibli têm kamis, raposas, espíritos maus e bons, fanfarrões e obstinados... e não é só num ou noutro filme: todos eles envolvem uma dimensão mais ou menos "fantasiosa".

Outra coisa claríssima é que as histórias sempre têm uma espécie de "equilíbrio com tensões", e as personagens principais -- geralmente meninas -- são as únicas que conseguem ver todos os lados, inclusive os dos "vilões", que em geral são pessoas boas em algum aspecto, apesar das maldades que fazem. A exceção aqui é Princesa Mononoke, onde apesar de a princesa dar nome ao filme, o personagem principal mesmo ser o Ashitaka, e ser ele quem tenta evitar o ódio e as mortes da guerra.

As personagens principais sempre têm uma vida "dolorosa" de alguma forma, e apesar de serem sensíveis e sentirem o sofrimento do outro, sempre carregam sozinha algum dilema ou dor ou decisão difícil, e é o que dá a ideia de que são personagens "fortes". Os vilões parecem ter um senso de bondade estreito e serem bons "do seu modo", preocupados apenas com os seus, ou preocupados em eliminar os outros pra proteger os seus -- e é isso que os faz vilões. Mas nenhum deles parece ser intrinsecamente mal. Ainda, no Meu amigo Totoro não há um vilão aparente, apenas a doença que mantém a mãe de Satsuki no hospital.

Os filmes têm mortes, e dilemas morais, e personagens com densidade, e sofrimento diante de situações duras, e portanto alguém pode dizer que não são filmes pra criança -- mas sim, eles são. Esses são os heróis que as crianças deveriam começar a ver pra se defrontar com situações verdadeiras da vida -- ainda que de uma forma fantástica e imaginativa --, em vez daqueles programas idiotizantes que passaram a produzir de uns 20 anos pra cá, que só serve pra permitir que os pais descansem enquanto o guri fica ali hipnotizado com porcaria. Mas ok, são filmes, então não tem muito pra ver -- apesar de eu conhecer criança que vê o mesmo filme dos backyardigans quinze vezes por dia...

Enfim. Essas são minhas impressões. Tirando o filme do Totoro -- cujo universo não tem nada de mais --, cada um dos filmes tem um lore, um contexto, que poderia ser muito explorado, e o ambiente inventado ali dá espaço pra vários filmes, séries, produções ...que ... lamentavelmente não existem.

Paztejamos.