domingo, 31 de maio de 2020

Notas Sobre Meditação

*Respirar fundo e relaxar. Inicialmente é isso que funciona. Em pouco tempo a mente acalma, a atenção aguça e eu posso sentir meu coração bater. Uma sentimento grave se me abate, e eu tendo a pensar com menos palavras. Se alguém chegar e romper meu silêncio, é provável que eu use menos palavras e mais certeiras, que eu o saúde com firmeza ao chegar e ao sair, de forma mais marcada.

*Mas relaxar não significa amolecer. A impressão inicial que eu tinha era que meus músculos deviam estar totalmente sem tensões, soltos, como se eu estivesse derretendo. Não! Uma postura correta demanda músculos tensos nos lugares certos, e só aos poucos eu estou me dando conta de todos eles.

*Sobre os músculos: eu pouco ouvi falar sobre os chacras mas, tendo os memorizados todos, posso afirmar que se eu fosse um indiano há 5 ou 6 mil anos atrás preocupado em meditar, essas ideias me seriam bem relevantes. Porque os pontos dos chacras são os primeiros pontos que eu levo em consideração quando penso em relaxar, e inclusive descobri uma nova parte no abdômen que eu não sentia, tal como eu não sabia sentir as costas ou o quadríceps antes de experimentar treiná-los. E agora eu tendo a crer que algum treinamento físico pode ser útil à concentração -- especialmente o abdominal no meu caso. O único chacra mais enigmático é o de cima da cabeça, que aparentemente tem um caráter mais espiritual, e eu não sei se o compreendo perfeitamente, ou pelo menos não dentro desse meu "empirismo utilitarista".

*Não pensar não significa exatamente o que essa expressão inicialmente diz. Tem a ver com adquirir um reflexo natural, ser "como a água" (pra lembrar o vídeo do Bruce Lee), estar em sintonia com o mundo. Quando eu respiro fundo e relaxo, minha mente passa da respiração aos batimentos do coração, depois aos desconfortos sentidos nas pernas ou na coluna, depois na pressão nos dentes ou o franzir da sobrancelha, e eu vou observando e corrigindo essas tensões até que minha mente já está num evento passado, ou numa preocupação cotidiana, ou num causo político... e tão logo eu me dou conta, trago de volta a atenção à respiração, e o processo segue novamente. Mas quando eu abro os olhos, vejo cores e reparo em coisas menores que nunca tinha observado, ainda que esteja num lugar perfeitamente familiar.

*o que eu como influencia drasticamente o processo. Na verdade as necessidades fisiológicas todas influenciam. É mais difícil entrar nesse estado de relaxamento e concentração de barriga cheia, e pior se tiver comido coisas pesadas. E pra mim o maior inimigo é o sono. Porque apesar de muita gente crer que meditar é entrar numa espécie de transe com a mente meia-fase -- num estado intermediário entre o sono e a vigília --, eu sou da opinião de que é exatamente o oposto: meditar é aguçar a observação.

*O estado em que eu me encontro quando relaxo e respiro é tal que aos poucos cada detalhe vai se mostrando, tanto em mim quanto no meu entorno, e eu vou os absorvendo, me tornando indiferente a eles, aceitando cada um deles. Se eu sinto fome, o ronco do meu estômago é percebido. Se eu sinto frio ou calor, ou raiva, vergonha ou ansiedade de algo que eu lembro, tudo isso vai passando por mim com um sentimento de "eu sei que isso tá aí", sem me agitar, ou tentando corrigir a agitação. É um estado em que eu sou o observador e ao mesmo tempo o fluxo das informações, mas com o propósito de se afastar desse fluxo. E depois, de olhos abertos, eu tento observar as coisas que acontecem com o mesmo distanciamento que eu consegui usar em mim, e eu creio que talvez assim as coisas que acontecem afetem menos o meu humor.

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Eu escrevi essas anotações mais pra registrar o meu processo do que pra dar qualquer tipo de caminho ou conselho, e nem eu mesmo sei se to vendo a coisa da maneira certa. Mas talvez alguém tire algum proveito disso...

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