quarta-feira, 2 de setembro de 2020

sloth spit

Eu meio que aprendo devagar. Meu interesse está sempre girando, eu tenho pouco foco e tenho dificuldades em fazer uma mesma coisa por muito tempo. Me falta disciplina. Eu quero ler tal livro, ver tal série, aprender tal língua, desenvolver tal habilidade e tudo fica pela metade, o que me faz um medíocre em diversas áreas -- digo, literalmente medíocre: o cara que faz "na média".

Por outro lado, eu sou medíocre em muitas coisas, muitos assuntos, muitas matérias. Eu sei um pouco de cada coisa de muita coisa, porque eu sou essa máquina (preguiçosa) de absorver conteúdo -- e eu sei que talvez muitos do nosso tempo o sejam, especialmente quando se trata de mero entretenimento, e talvez justamente por isso eu me sinta ainda como alguém "no topo": porque além do mero entretenimento eu tendo a me esforçar pra absorver assuntos mais pesados, forçar meus limites o pouco que seja, ainda que só pelo pequeno prazo de tempo em que meu interesse permanece focado.

E depois, tem essa de que a cada nova matéria com que eu faço contato me bate sempre esse sentimento de que "ei, eu poderia fazer essa tal coisa", como ensinar uma língua que eu estou aprendendo, ou iniciar um grupo de leituras com os livros de tal autor, ou começar a ensinar o instrumento que eu estou tocando. Porque absorver conteúdo é legal, mas produzir meio que te põe em movimento, meio que te incentiva a aprender mais pra poder ensinar coisas novas -- e meio que é por isso que eu comecei a blogar.

Só que os blogs -- e o blogspot em especial -- é coisa do passado. Mesmo na época de ouro do blogger eu não tinha saco pra aprender os pormenores (e nunca tive), e essa coisa de gerar público orgânico e conteúdo consistente e com uma certa frequência sempre me foi um pé no saco. E nas novas mídias é a mesma coisa: youtube, instagram, facebook ou mesmo tik tok: fazer a vida em cima de uma mídia social significa postar certo conteúdo com certa regularidade e certo público alvo. Mas, como eu disse antes, meu interesse tá sempre girando, o que significa manter constância por no máximo um mês ou dois.

E daí que eu meio que desisti. Ok, eu sempre tive blogs desde a adolescência e escrever sempre foi relativamente fácil pra mim, e por isso mesmo eu passei a escrever bastante no facebook -- e entrar em discussões inúteis e me estressar com política e etc (mas isso é história pra outro post) --, e o que me agrada no facebook e aqui no blogger é que eu posso simplesmente vomitar meu texto sem muita composição e só mais ou menos revisar pra ver se expressei o que eu queria e voilà! nasceu mais um post.

Mas ok que eu já caprichei mais nas ideias aqui e ali -- especialmente aqui no blogger. Até porque em vários posts que se acha aqui eu estava tentando construir algo, manter uma certa consistência de conteúdo, que depois eu acabei abandonando justamente pela minha inconstância que eu venho comentando. E também que no outro blog, o da adolescência (que eu mantenho 'oculto'), eu estava sempre tentando ser verdadeiro e "filosófico" num sentido bem honesto: eu estava tentando abordar as minhas questões da forma como elas me vinham e da forma como eu conseguia as encarar, e torcendo que alguém se identificasse com elas de alguma forma.

E ainda tem a questão de que escrever não me expõe, ou pelo menos me expõe de uma forma que eu ao longo do tempo fui me acostumando e passei a gostar, ou talvez tenha me tornado mais resistente às chateações que poderiam aparecer. Porque se eu escrevia algo e entrava numa discussão -- o que nunca foi raro --, a discussão se dava em torno do assunto do texto, e nesse distanciamento eu sou capaz de lidar, e até de trocar de opinião eventualmente, o que sempre me fez me sentir mais ou menos "produtivo" nessa prática pelo menos. 

Agora, uma vez eu tentei gravar um vídeo no youtube e foi um desastre. Porque falar diante da câmera envolve muitas coisas. Tá certo que eu era adolescente e as câmeras naquela época não eram tão boas, mas mesmo hoje eu tenho dificuldades com fazer poses pra tirar fotos, e prefiro simplesmente aparecer nas fotos dos outros porque não gosto de me sentir "não natural". E é exatamente "não natural" que a gente se sente falando com a câmera pela primeira vez!

Além disso, tem toda uma desenvoltura pra falar, um roteiro que seria bom seguir e eu não consigo simplesmente ligar a câmera e sair falando com ela como eu faço aqui no blogger, em que basta eu me sentir confortável e em pouco mais de meia hora ou uma hora meu texto está pronto. E ainda tem a questão de que a crítica talvez não venha sobre o assunto de que eu trato mas sobre mim como pessoa, ou sobre minha desenvoltura -- e, pode não parecer pra quem não me conhece, porque eu sou um cara super ácido e debochado e falo de assuntos polêmicos e sou bem confiante ao dar minhas opiniões, mas quando se trata de mim mesmo eu tendo a ser bem inseguro e tímido, e geralmente o meu bom humor e deboche são inclusive formas de camuflar essas inseguranças (talvez alguém lembre do Chandler num episódio em que aparece um psicólogo).

Então... ok, eventualmente me ocorrei fazer um podcast, porque é só voz e meio que soa como um programa de rádio, e se eu tiver alguém com quem conversar eu tendo a ser uma pessoa bem legal e com muito assunto, especialmente se eu esquecer que estamos gravando. Dá até pra começar a gravar, gravar por umas boas horas e depois só cortar os trechos mais interessantes (e aleatórios) da conversa. Mas... de novo, a menos que tenha um assunto específico, um público alvo e consistência nas postagens, não é algo que vá criar um público, e também que (assim como aqui no blogger) tem assuntos sobre os quais simplesmente não dá pra falar na internet -- especialmente se o pessoal aqui no Brasil resolver importar essa tal "cultura de cancelamento" que rola nos Estados Unidos, o que é lamentavelmente uma censura afinal. 

"Mas wtf dude?! pra que tu precisa postar alguma coisa afinal?!". Pois é, justamente isso, como eu disse logo acima eu desisti. E fiquei um bom período simplesmente absorvendo. Deletei o facebook (no qual eu perdia uma quantia absurda de tempo) e mesmo nesse blog eu fiquei muito tempo só postando links e materiais só pra mim, que eu achava interessante e não ligava muito se alguém via. E mesmo quando eu me propus ultimamente a alguma coisa, eu me permiti que rolasse no meu tempo -- e eu ainda quero levar meus comentários do curso de teologia do Padre Paulo até o final, mas conforme eu estiver afim.

Só que ao longo do tempo vem essas questões de "propósito da vida" e "deixar um legado" ou "construir algo" que me pegam, e ultimamente eu tenho me perguntado o sentido de eu ler a absorver tais e quais assuntos, e porque esses são mais importantes que aqueles, e me ocorreu que eu afinal preciso sim de um projeto. Quando eu era adolescente eu nutria em mim a idealização de que eu ia ser como um desses gênios que com trinta anos já estão fazendo descobertas científicas, viajando pelo mundo ou revolucionando a ciência ou a filosofia, e ... não, eu sou só mais um cara como outro, com qualidades e defeitos e pode ser que eu faça alguma coisa de valor ou pode ser que não, como muita gente por aí, e talvez já esteja na hora de eu escolher algo e aprender a fazer bem.

Já faz algum tempo que eu venho fazendo exercícios físicos e pulando corda e eu tenho percebido que pelo menos nisso eu tenho mantido alguma disciplina. Eu comecei só pulando corda, e depois eu inventei de fazer alguns alongamentos. Daí eu resolvi mudar minha alimentação pra ajudar no processo, e comecei a fazer abdominais, depois apoios e ... quando eu estava praticando pra conseguir fazer handstands. Quer dizer, esse é o processo: escolher uma coisa e aos poucos deixar que ela vá 'florescendo' e te mudando aos poucos para uma forma nova tal que de repente tu olha pra trás e vê "nossa! olha o caminho que eu percorri!".

E eu entendo que fazer exercícios me mantém saudável, e estando saudável eu vou ter uma vida melhor e daí me vem a questão de "tá, mas pra que uma vida melhor? qual o objetivo? tu ainda vai morrer um dia, então... que diferença faz viver mais dez anos ou vinte ou cinquenta?". E pensando nessas coisas eu tenho me dado conta de que, ok, tem gente que gosta de fazer exercícios e a finalidade da pessoa é simplesmente desenvolver e cultivar o corpo, mas eu não to nessa vibe, eu preciso fazer algo, alguma ideia, algum projeto.

Mas meio que se eu não começar por alguma coisa, eu não vou começar nunca. Eu fico absorvendo, processando e pensando "ok, agora eu preciso pôr algo pra fora" e nunca dá tempo, porque eu ocupo todo o tempo absorvendo, e não dedico tempo nenhum à produção, e vou seguindo no auto-pilot, e de repente olho pra trás e não fiz nada, nem que seja só botar todo esse raciocínio num post do blog.

E ... bom. Agora eu botei. Me sinto como que tendo me exorcizado. Não dá pra ficar esperando fazer. Tem que fazer algo. Ok que eu só escrevi e isso aqui é uma puta zona de conforto. Mas é algo, especialmente porque eu não tenho projeto ou ideia claros agora. Eu tenho mais ou menos uma linha de raciocínio que não é nada fácil e é extremamente ambiciosa e provavelmente vai mudar assim que eu começar. Mas assim como eu adquiri disciplina pra me dedicar nos exercícios físicos, eu preciso aprender a adquirir disciplina pra produzir alguma coisa, seja texto, áudio ou vídeo ou etc.

Enfim...
eras isso. Paztejamos

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